Setor vê com otimismo o crescimento no uso de ferramentas, mas ainda é preciso avançar na superação de alguns desafios.

O mercado de tecnologia em saúde no Brasil está em crescimento, impulsionado por avanços tecnológicos, mudanças nas necessidades de saúde da população e pela digitalização de serviços. De acordo com a Healthcare Information and Management Systems Society (HIMSS), o mercado global de tecnologia da informação em saúde deve crescer 15% ao ano até 2025.

No Brasil, a telemedicina teve um crescimento exponencial durante a pandemia de Covid-19. Em 2020, o número de atendimentos por telemedicina aumentou em mais de 1.000% em comparação com anos anteriores, segundo dados do Conselho Federal de Medicina (CFM). Além disso, o uso de prontuários eletrônicos tem crescido, com cerca de 70% dos hospitais de grande porte já utilizando essa tecnologia.

Dados da pesquisa TIC-Saúde, organizada pelo Cetic.br – Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação, apontam que, em 2019, 11% dos estabelecimentos de saúde com acesso à internet possuíam conexão acima de 100 Mbps. Em 2021, esse número passou para 23%, em 2022 para 32% e em 2023 para 33%. Em 2013, 30% dos estabelecimentos mantinham informações de prontuário exclusivamente em papel. Esse número caiu para 11% em 2023. E o número de instituições que mantinham informação apenas em formato eletrônico subiu de 22% para 32%.

“A visão de 2023 é que 87% das instituições possuem os dados cadastrais informatizados e 75% possuem o histórico clínico dos pacientes também informatizado, o que são números impressionantes contando com o volume e a diversidade das instituições de saúde no país, tanto com atendimento público quanto privado”, destaca Luis Gustavo Kiatake, diretor de Relações Institucionais da SBIS – Sociedade Brasileira de Informática em Saúde.

“A adoção de tecnologias avançadas está transformando a maneira como os cuidados de saúde são prestados, tornando-os mais eficientes, personalizados e acessíveis. As instituições de saúde que investirem nessas inovações estarão melhor posicionadas para enfrentar os desafios futuros e melhorar a qualidade do atendimento aos pacientes”, analisa Fatima Pinho, sócia de Life Sciences & Health Care da Deloitte.

Maior eficiência no atendimento e redução de custos

O uso estratégico de dados e tecnologia não apenas aprimora os cuidados, mas também proporciona uma gestão mais eficiente e sustentável dos recursos de saúde.

“O crescimento no uso de tecnologias em saúde é impulsionado pela necessidade de reduzir custos, gerenciar uma população envelhecida, aproveitar avanços tecnológicos e democratizar o acesso aos cuidados de saúde. Esses fatores combinados garantem que as tecnologias continuem a evoluir e a serem adotadas de maneira mais ampla e eficaz”, diz Cláudia Araújo, professora e coordenadora do Centro de Estudos em Gestão de Serviços em Saúde do COPPEAD/UFRJ.

Segundo Fatima, estudos estimam que a digitalização pode reduzir os custos administrativos em até 10%. Sobre o envelhecimento da população e o aumento da expectativa de vida, há uma demanda crescente por serviços de saúde, o que impulsiona a adoção de novas tecnologias para atender essa necessidade. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), até 2030, a população idosa no Brasil representará cerca de 18% do total.

Ou seja, o que impulsiona os investimentos são os problemas crônicos que o sistema de saúde enfrenta. “Não há solução para a sustentabilidade do setor que não passe pelo investimento em tecnologia. Não vamos construir o dobro do número de hospitais que temos hoje nem poderemos levar todas as pessoas que necessitam de um atendimento para dentro deles. Assim, a forma como vamos atender mais pessoas é usando a tecnologia a nosso favor – seja para acompanhamento remoto ou para melhoria da comunicação entre médico e paciente. São os recursos tecnológicos que irão criar um ambiente de produtividade que possa combater o desperdício de recursos que temos hoje.”

Tendências apontam para um cenário de expansão 

Fatima traz alguns dados que ilustram um cenário positivo no uso de tecnologias em saúde. A telemedicina, por exemplo, deve se consolidar como uma parte integral do sistema de saúde, com previsões de crescimento contínuo e diversificação dos serviços oferecidos. Segundo a Global Market Insights, o mercado mundial de telemedicina deve atingir US$ 175,5 bilhões até 2026.

Em relação à inteligência artificial, espera-se um crescimento anual de 41,7%, de acordo com a Allied Market Research. “O uso da Internet das Coisas Médicas (IoMT) deve crescer, com a utilização de dispositivos conectados que permitirão um monitoramento contínuo e remoto dos pacientes, melhorando a gestão de doenças crônicas e a detecção precoce de complicações”, ressalta ela.

Desafios para a implantação de tecnologias em saúde 

Mesmo diante de um cenário promissor, a adoção de tecnologias em saúde enfrenta diversos desafios que dificultam sua implementação e uso eficaz. Um dos principais é a interoperabilidade entre diferentes sistemas de saúde, como comentou Kiatake, que muitas vezes são desenvolvidos de forma independente, resultando em dificuldades para a troca de informações de pacientes.

Além disso, a rápida evolução da tecnologia médica frequentemente supera a velocidade da regulamentação para seu uso e questões legais relacionadas à privacidade e segurança de dados também representam barreiras significativas.

“Existe naturalmente uma dependência de avanços regulatórios, e dentre eles o mais impactante é a tramitação do projeto de Lei 5875/2013, que estabelece regras e plataformas para a troca de dados em saúde. Esse projeto já foi aprovado no Senado Federal e tramita na Câmara dos Deputados, o que traz grande expectativa para evolução ainda neste ano”, explica Kiatake.

Outro obstáculo comum é a falta de suporte gerencial e treinamento adequado dos profissionais de saúde, tão necessários para garantir a implementação bem-sucedida e o uso adequado das novas tecnologias. Por fim, o custo elevado de implementação e manutenção de sistemas tecnológicos pode ser proibitivo, especialmente para pequenas clínicas e hospitais em áreas rurais.

Na questão custos, observando-se o cenário hospitalar, Vitor Ferreira, integrante do Grupo de Trabalho de Tecnologia e Inovação da Associação Nacional de Hospitais Privados (Anahp) e presidente da Associação Brasileira CIO Saúde (ABCIS), destaca que, dos mais de 7.300 hospitais (públicos e privados) existentes no país, mais de 6 mil ainda possuem um baixo nível de maturidade tecnológica.

“Cerca de 500 hospitais – a maioria localizada nas capitais – realizam investimentos básicos em tecnologia. Nos demais, o orçamento de tecnologia concorre com outras necessidades básicas. Mas são poucos os que conseguem fazer investimento de ponta, como aqueles com mais de 300 leitos, que trazem inteligência artificial embarcada nos equipamentos, o que favorece o diagnóstico mais preciso e fluxos mais eficientes”, enfatiza.

Em geral, o investimento em tecnologia gira em torno de 5% do faturamento anual das instituições, mas segundo pesquisa da Deloitte, cerca de 60% dos CEOs de hospitais planejam aumentar esse valor nos próximos três anos, com foco principalmente em inteligência artificial.

Sobre a necessidade de capacitação dos profissionais do setor, Ferreira comenta que, por mais investimentos que possam ser feitos em tecnologia, os fluxos internos são controlados com sistemas básicos porque existe dificuldade de convencer os gestores da importância do investimento em tecnologia.

“Ainda há muita resistência. Precisamos mudar a cultura interna para que possamos utilizar as tecnologias que temos disponíveis. As inovações devem assumir uma posição de protagonismo, mas os gestores hospitalares devem compreender esse cenário amplo e se qualificarem para o que está chegando”, finaliza.

Fonte: Saúde Business | Reprodução 06/08/2024


Esses e outros assuntos relacionados serão debatidos na agenda abaixo:

XV Fórum Nacional de Inovação Tecnológica em Saúde no Brasil

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