Este artigo é a segunda parte de uma série de artigos explicativos sobre o desenvolvimento e distribuição das vacinas. A Primeira Parte informava sobre o modo como as vacinas funcionam para proteger os nossos corpos contra germes portadores de doenças. Este artigo informa sobre os ingredientes de uma vacina e as três fases dos ensaios clínicos. A Terceira Parte indica a parte seguinte do trajeto da vacina: os passos dados desde a conclusão das fases dos ensaios clínicos até à distribuição.

Quais são os ingredientes de uma vacina?

As vacinas contêm pequeníssimos fragmentos do organismo que causa a doença ou as matrizes para fazer esses fragmentos. Também contêm outros ingredientes que tornam a vacina segura e eficaz. Estes últimos ingredientes estão incluídos na maioria das vacinas e têm sido usados há décadas em milhares de milhões de doses de vacinas.

Cada componente da vacina serve um propósito específico e cada ingrediente é testado durante o processo de fabrico. São feitos testes à segurança de todos os ingredientes.

Antigénio

Todas as vacinas contêm um componente ativo (o antigénio) que gera uma resposta do sistema imunitário, ou a matriz para fazer o componente ativo. O antigénio pode ser uma pequena parte do organismo causador da doença, como uma proteína ou um açúcar, ou pode ser todo o organismo numa forma enfraquecida ou inativada.

Conservantes

Os conservantes impedem que a vacina seja contaminada depois de aberto o frasco, se este for usado para vacinar mais do que uma pessoa. Algumas vacinas não têm conservantes, porque são guardadas em frascos de uma única dose, que são descartados depois de administrada essa dose. O conservante mais comummente usado é o  2-fenoxietanol. É usado há muitos anos em inúmeras vacinas, numa grande variedade de produtos para bebés e é seguro para uso em vacinas, por ter pouca toxicidade em seres humanos.

Estabilizadores

Os estabilizadores impedem que ocorram reações químicas na vacina e impedem também que os componentes da vacina adiram às paredes do frasco.

Os estabilizadores podem ser açúcares (lactose, sucrose), aminoácidos (glicina), gelatina e proteínas (albumina humana recombinante, derivados de leveduras).

Surfactantes

Os surfactantes mantêm todos os ingredientes da vacina misturados. Impedem o depósito e a aglutinação dos elementos que estão na forma líquida da vacina. Muitas vezes também são usados em alimentos, como os gelados.

Resíduos

Os resíduos são pequeníssimas quantidades de várias substâncias usadas durante o fabrico ou a produção das vacinas que não são ingredientes ativos da vacina final. As substâncias variam consoante o processo de fabrico usado e podem incluir proteínas de ovos, levedura ou antibióticos. Os vestígios residuais dessas substâncias que podem estar presentes numa vacina são em tão pequenas quantidades que têm de ser medidos como parte por milhão ou partes por mil milhões.

Diluentes

Um diluente é um líquido usado para diluir uma vacina até à concentração correta, imediatamente antes do seu uso. O diluente mais comummente utilizado é água esterilizada.

Adjuvantes

Algumas vacinas também contêm adjuvantes. Um adjuvante melhora a resposta imunitária à vacina, por vezes mantendo a vacina no ponto da injeção durante mais algum tempo ou estimulando as células locais do sistema imunitário.

O adjuvante pode ser uma pequena quantidade de sais de alumínio (como fosfato de alumínio, hidróxido de alumínio ou sulfato de alumínio e potássio). Está comprovado que o alumínio não causa problemas de saúde a longo prazo e os humanos ingerem alumínio regularmente através dos alimentos ou das bebidas.

Como são as vacinas desenvolvidas?

A maioria das vacinas são usadas há décadas, havendo milhões de pessoas que as recebem em segurança todos os anos. Tal como acontece com os medicamentos, todas as vacinas têm que passar por testes morosos e rigorosos para garantir a sua segurança, antes de poderem ser introduzidas no programa de vacinação de um país.

Cada vacina em desenvolvimento tem, em primeiro lugar, de ser submetida a exames e avaliações, para determinar que antigénio deve ser usado para provocar uma resposta do sistema imunitário. Esta fase pré-clínica é feita sem testes em humanos. Uma vacina experimental é testada primeiro em animais, para se avaliar a sua segurança e potencial para prevenir a doença.

Se a vacina desencadear uma resposta imunitária, passa a ser testada em ensaios clínicos com humanos em três fases.

Fase 1

A vacina é inoculada num pequeno grupo de voluntários, para se avaliar a sua segurança, confirmar se ela gera uma resposta do sistema imunitário e determinar a dosagem certa. Geralmente, nesta fase, as vacinas são testadas em voluntários jovens e adultos saudáveis.

Fase 2

A vacina é depois administrada a várias centenas de voluntários para continuar a avaliar a sua segurança e capacidade de gerar uma resposta do sistema imunitário. Os participantes nesta fase têm as mesmas características (idade, sexo) que as pessoas a quem a vacina se destina. Nesta fase, normalmente, são feitos vários ensaios para avaliar diversos grupos etários e diferentes formulações da vacina. Um grupo que não tenha recebido a vacina é, normalmente, incluído nesta fase como grupo de comparação, para determinar se as alterações no grupo vacinado são atribuíveis à vacina ou ocorreram por acaso.

Fase 3

A vacina é, posteriormente, administrada a milhares de voluntários – e comparada com um grupo semelhante de pessoas que não levaram a vacina, mas receberam um produto de comparação – para determinar se a vacina é eficaz contra a doença que se destina a combater e para estudar a sua segurança num grupo muito mais alargado de pessoas. Na maior parte das vezes, os ensaios da fase três realizam-se em vários países e vários locais dentro dos países, para garantir que os dados do desempenho da vacina se aplicam a várias populações diferentes.

Durante os ensaios da fase dois e da fase três, os voluntários e os cientistas que participam no estudo são impedidos de saber que voluntários receberam a vacina do ensaio ou o produto de comparação. A isso chama-se “ensaio cego”, que é necessário para garantir que, nem os voluntários, nem os cientistas, são influenciados na sua avaliação sobre a segurança e eficácia, ignorando qual o produto que cada um recebeu. Depois de concluído o ensaio e finalizados todos os resultados, os voluntários e os cientistas do ensaio são informados sobre quem recebeu a vacina e quem recebeu o comparador.

Quando os resultados de todos esses ensaios estiverem disponíveis, é necessário dar uma série de passos, incluindo análises de eficácia e segurança, para aprovação das entidades reguladoras e de saúde pública. Os responsáveis em cada país estudam atentamente os dados dos ensaios e decidem se devem autorizar o uso da vacina. Uma vacina tem de comprovar que é segura e eficaz numa vasta população, antes de ser aprovada e introduzida num programa nacional de vacinação. O nível da segurança e eficácia da vacina é extremamente elevado, reconhecendo que as vacinas são administradas a pessoas que são completamente saudáveis e sem qualquer doença específica.

A monitorização continua permanentemente depois de a vacina ser introduzida. Existem sistemas para monitorizar a segurança e a eficácia de todas as vacinas. Isso permite aos cientistas acompanharem o impacto da vacina e a sua segurança, mesmo quando é usada num grande número de pessoas, durante um longo período de tempo. Esses dados são usados para ajustar as políticas sobre o uso das vacinas, a fim de otimizar o seu impacto, permitindo  também que a vacina seja acompanhada com segurança durante o seu uso.

Uma vez em uso, uma vacina deve ser constantemente monitorizada para haver a certeza de que continua a ser segura. 

 

Fonte: who.int